Acho que todos já sabem do ato ocorrido dentro das instalações da Universidade Federal Fluminense, onde um grupo em um ato performático realizou cenas dignas de um show de horrores ou de um filme trash de terror barato.. Mulheres nuas e semi-nuas se auto-mutilando, costurando seus órgãos sexuais, tudo regado a bebidas alcoólicas e, segundo alguns, outras drogas, conforme noticiado inclusive na mídia, como o site G1. Alguns defenderam o referido ato, como uma forma de expressão artística, uma manifestação da ruptura com o status quo de uma sociedade patriarcal machista e obsoleta, inclusive havendo uma carta aberta redigida - supostamente - pelo Chefe de Departamento do curso que promoveu o evento, no qual em um misto de defesa da liberdade de expressão e deturpação maquiavélica da informação, tentando inverter o ônus da responsabilidade para o poder público local, referindo-se aos inúmeros atos de violência sexual sofrida por mulheres na região para justificar as cenas que se viram. No entanto, o ato não foi somente uma demonstração do que há de mais bizarro na estupidez humana, como também foi uma violação clara a direitos religiosos de uma minoria que não precisava de mais uma insanidade cometida para ser perseguida.
Vamos esclarecer ao senhor Chefe de Departamento algumas coisas aos quais ele, ou não sabe, ou finge que não sabe: primeiro, o ato "xereca satanic" (sic) tinha publicado, sob a forma de evento no Facebook, o que aconteceria no ato, e ao que estaria relacionado, e em nenhum momento sequer falaram em protesto contra a violência sexual sofrida pelas mulheres como o senhor tentou transparecer em sia carta aberta, ao contrário, afirmava entre outras coisas, relação com "(...) PEGAÇÃO-FETICHES- EVOÉ BACO- DESTRUIÇÃO-PAGANISMO- BRUXARIA- BAPHOS- FUNK- ROCK- POP-PUNK-AXÉ-MANGUEBEAT- HARCORE-GRIND- FOFURAS- TRAVESSURAS & TRAVESTIS- PAZ-AMOR-SEXO-ROCK'N'ROLL-SAPATÂNICAS-BICHAS LOKAS-PANSSEXUAIS-HETERONORMATIVOS-PROMISCUIDADES-ORGIAS-MADONNA-MC XUXÚ- MAIS BAPHOS-BADALOS-PERFORMANCES-BONDAGE-CORPOS-ANGELA RORÔ-CAMISINHAS-VODCA-OU-ÁGUA- DE-COCO-BEIJIM NO OMBRO- MONTAÇÃO-CABARÉ- ATÉ O CHÃO-BATEÇÃO DE CABELO-BATEÇÃO DE CABEÇA- LOUNGE- VELAS- DIVINE-TRASH HUMPS-DEIXA EU VACILAR-BOTA COM RAIVA- DA LAMA AO CAOS- NUDEZ-CRIME&CASTIGO-120 DIAS DE SODOMA-VIDA QUE SEGUE- CU EM CHAMAS-ALEGRIA-NÃO VAI TER COPA- RED TUBE- RESPEITO" (retirado diretamente da página do evento). Só isto já seria mais do que suficiente para que o senhor avaliasse melhor sua carta, já que pegação e fetiches nada tem a ver com aquilo afirmado por Vossa Senhoria. Só que, olhando atentamente o texto supracitado, vemos que tentaram relacionar o mesmo com "paganismo e bruxaria" e , caso o senhor não possua conhecimento acerca do que ocorre no mundo (e deveria, já que coordena um curso de produção cultural), ambas as denominações estão associadas a religiões reconhecidas no Brasil e no Mundo. O Paganismo abrange diversas denominações religiosas, desde o xamanismo e a pajelança dos índios (reconhecida e protegida por lei), passando pelo druidismo e a asatru (ambas religiões atuantes no brasil, e reconhecidas respectivamente na Inglaterra, Islândia e países escandinavos) e chegando a wicca, religião auto-denominada de "bruxaria moderna" com diversos seguidores tanto aqui, quanto na Europa e nos EUA. O ato, ao tentar se relacionar com religiões conhecidas e reconhecidas, de forma desrespeitosa, pois fez uma imagem de tais denominações que nada condizem com o que realmente é praticado, violou a lei federal 9.459 de 15 de maio de 1997, artigo 20, que coloca como crime "Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". Saiba que por conta de tal ato, a vida de alguns pagãos que já era complicada por conta do preconceito se tornou quase insustentável devido ao pensamento de que todo pagão realiza aquilo que se viu no evento defendido pelo senhor. Aliás, não foi o primeiro evento realizado por este grupo que violou a lei supracitada, já que no ano passado, durante a Jornada Mundial da Juventude Católica no Rio de Janeiro, estas mesmas mulheres protagonizaram uma cena de vandalismo a objeto sacro, ao realizarem um ato de masturbação utilizando uma imagem de uma santa católica. Saiba portanto o senhor que, sendo o senhor o responsável pelo curso, e consequentemente, pelo evento, e sendo servidor de uma instituição federal, o senhor se torna cúmplice de tal crime ao apoiá-lo, podendo inclusive ter de prestar explicações sobre isto a justiça federal, pois o fato ocorreu dentro de uma instituição federal.
Segundo: ao relacionar o evento como um ato de protesto ao qual o senhor nem estava presente, de acordo com a referida carta, protesto este pelos altos índices de violência sexual sofridas pelas mulheres da região onde se encontra a UFF de Rio das Ostras, será que o senhor não pensou que o ato em si causou mais danos a luta pelos direitos das mulheres do que realmente serviu como uma forma de protesto? Será que um monte de mulher nua se auto-mutilando utilizando um bisturi trançando pentagramas no corpo, ou costurando vaginas para depois arrancar a costura com toda brutalidade feita, ajudou a diminuir os índices de estupro ocorridos em seu município, ou no estado, ou no país? Sim meu caro, se isto ocorreu, foi apenas no imaginário do senhor, tal qual uma banana coibiu o racismo para sempre no imaginário da revista Veja. Aliás, este grupo, já no ano passado, manchou o nome do movimento feminista e de direitos dos homoafetivos com o ato da masturbação da santa, já referido aqui, pois ao invés de esclarecer que apenas queriam que mulheres e homoafetivos fossem respeitados como seres humanos, desrespeitaram uma crença em um ato puramente agressivo e sem propósito. O mesmo se deu agora, pois além de escarnecer em cima de religiões que demonstram desconhecer absurdamente, ainda coisificaram a luta feminista, transformando-a em uma orgia pública, violenta e bizarra.
Terceiro: o senhor se referiu a uma tentativa de censura ao ato em sua carta, ao mesmo tento fez ameaças veladas a servidores públicos, dizendo que se algum deles se manifestasse contra, seriam exigidas explicações sobre falta de estrutura da universidade e sobre os casos de estupro da cidade. Poderia alegar que a ameaça é crime previsto no código penal, mas ao invés disto, devo lembrá-lo de que, como Chefe de Departamento, a responsabilidade pela infra-estrutura do campus é tua. Quem sabe se o senhor tivesse gasto o dinheiro da CNPq em material de estudo, laboratórios, bibliotecas entre outras coisas, ao invés de gastar com um evento que nem pode ser chamado de artístico, pois a linguagem utilizada está mais próxima dos animais selvagens do que a dos seres humanos dotados de razão e discernimento estético, talvez o teu polo estivesse em melhores condições. Aliás, acho que o senhor terá de explicar este gasto, já que o dinheiro do ato é dinheiro público, e é teu dever explicar o que fez com ele! Sobre as exigências de explicações sobre casos de estupro, sim, concordo com o senhor...mas devemos cobrar não dos servidores públicos, e sim dos governantes, já que são eles os responsáveis por lei, de assegurar que a dignidade e a vida humana não sejam violadas por quem quer que seja. Querer cobrar de servidores públicos é abusar das tuas prerrogativas, meu caro. Aliás, saiba que a queima de símbolo pátrio em estabelecimento público é crime (e no evento que o senhor não foi, queimaram uma bandeira do Brasil, o senhor como responsável por uma instituição federal será que consegue explicar isto?).
Quarto: devo lembrá-lo que o senhor detêm um cargo público e que deve zelar pela imagem dele e da instituição ao qual representa. Por comentários infelizes alguns já perderam o cargo, como foi o caso ocorrido na Universidade Federal da Bahia, onde um certo senhor afirmou que baiano só tocava berimbau porque tinha apenas uma corda, pois se possuísse duas, não saberia tocar. Será mesmo que a tua instituição, ao qual o senhor representa, acata a imagem maculada que está adquirindo, de desrespeito a religiões e ao próximo?
O senhor citou obras artísticas que realizam auto-mutilação desde a década de 70, contudo o senhor se esqueceu que tais atos eram feitos dentro de um contexto estético e filosófico, o que não foi o caso aqui referido, que teve apenas como objetivo o de chocar por chocar. Se o senhor considera isto como arte, acho melhor rever seus conceitos...
Assinado: Marcelo Willian dos Santos
Filósofo, formado pela Universidade de Taubaté, Druida da Ordem Druídica Trevo e Azevinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário